domingo, 18 de dezembro de 2011

Açorianos 2011 - Comentários de Caco Coelho e de Hermes Bernardi Jr.


 Em tempos em que Porto Alegre parece dominada pelo gosto de alguns poucos (e velhos) mandatários, é importante lembrarmos que apesar disso - da inevitável comodidade desses poucos e do apreço deles à fórmulas batias; apesar disso o público, a crítica e os próprios artistas da classe teatral gaúcha consideram Hotel Fuck um dos melhores espetáculos do ano. E sem dúvida alguma esse é o nosso maior prêmio. Parabéns a todos os bravos da nossa equipe! E que venha 2012, quando enfim cruzaremos a fronteira dessa cidade fantasma e erguiremos nosso Hotel em lugares mais acostumados a ousadias.

"(...) No topo das indicações ao Prêmio Açorianos de teatro deste ano, está o esforço hercúleo, traduzido num espetáculo orgiástico, realizado pela Santa Estação, sob a direção de Jezebel de Carli, Hotel Fuck - Num Dia Quente a Maionese Pode te Matar. Jezebel de Carli é uma mestre do teatro gaúcho que tem o cerne de trabalho no teatro-físico. Desta feita, levou sua trupe e convidados para um set de gravação, mixando artes, expondo a céu aberto uma engenharia de grande fibra. Quando o teatro avança, solidamente, é chegada a hora de grandes transformações. Evoé!"

Caco Coelho, diretor e pesquisador, em texto publicado no Correio do Povo, em 10 de Dezembro de 2011. Para ler o texto na íntegra, CLIQUE AQUI


"Diones, meu querido, Hotel Fuck é, de fato, tua excelência em dramaturgia. Assisti a todos os episódios neste último finde e preciso dizer: te reconheci em cada palavra dita por cada uma das personagens. Tu está ali, na boca de cada homem, de cada mulher e de cada "transgênero" (hahahahaha). O espetáculo é uma festa! Tua cara. Era pra ti, te falei... O trabalho é resultado de toda a competência da Cia. Santa Estação, agora, contigo por perto. Fica feliz por que muita gente ficou e outros ficarão também. Toda estrada será pouca pro Hotel."

Hermes Bernardi Jr., escritor e jurado do Prêmio Açorianos 2011, em mensagem pessoal para Diones Camargo, autor da peça, publicado via Facebook.

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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Hotel Fuck é a Campeã de Indicações ao Prêmio Açorianos de Teatro 2011

Hotel Fuck recebeu 10 indicações ao Prêmio Açorianos de Teatro, incluindo Melhor Espetáculo, Melhor Direção, Melhor Dramaturgia, Melhor Ator e Melhor Atriz.

Há cerca de uma semana, na noite de 05 de Dezembro, foram divulgadas as listas dos indicados aos melhores de 2011 nas artes cênicas produzidas no RS. O Prêmio Açorianos de Teatro e Dança, organizado pela Coordenação de Artes Cênicas e pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre, elege as produções locais que mais se destacaram durante a temporada teatral. Como já era esperado, a saga Hotel Fuck - Num Dia Quente A Maionese Pode Te Matar, a mais recente produção da Santa Estação Cia de Teatro, desponta como a favorita, com 10 indicações ao prêmio, incluindo as categorias mais importantes: Melhor Espetáculo, Melhor Direção, Melhor Dramaturgia, Melhor Atriz (Larissa Sanguiné), Melhor Ator (Denis Gosh), Melhor Atriz Coadjuvante (Gabriela Greco) e Melhor Ator Coadjuvante (Jeffie Lopes), além de outros prêmios técnicos. A peça em 3 episódios dirigida por Jezebel de Carli e escrita por Diones Camargo (autor de Andy/Edie, Teresa e o Aquário, Nove Mentiras Sobre a Verdade, e dramaturgista de O Mapa_, espetáculo que também concorre este ano em 9 categorias, incluindo Melhor Dramaturgia), já havia recebido em Setembro o Prêmio Braskem Em Cena de Melhor Ator para Denis Gosh, e recentemente ganhou o Prêmio Myriam Muniz com um projeto de circulação que prevê para 2012 apresentações em 4 cidades brasileiras, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba.

A cerimônia de premiação acontecerá amanhã a noite, dia 16 de Dezembro, às 20h, no Teatro Renascença, com entrada franca e transmissão ao vivo pela TVE. Abaixo, a lista dos indicados ao prêmio em teatro adulto (para ver a lista completa, incluindo teatro infantil e dança e o Prêmio Mais Teatro Revelação, clique AQUI):

Prêmio Açorianos de Teatro 2011:


ESPETÁCULO

> A Mulher Sem Pecado
Melhor Espetáculo
> A Tecelã
> Hotel Fuck – Num Dia Quente a Maionese pode te Matar  
> O Mapa_
> O Fantástico Circo-teatro de um Homem Só


DIREÇÃO 

Melhor Direção: Jezebel de Carli
> Jezebel de Carli (Hotel Fuck – Num Dia Quente a Maionese pode te Matar)
> Patrícia Fagundes (O Fantástico Circo-teatro de um Homem Só)
> Paulo Balardim (A Tecelã)
> Caco Coelho e Beto Russo (A Mulher Sem Pecado)
> Daniel Colin (Breves Entrevistas com Homens Hediondos)


DRAMATURGIA

Melhor Dramaturgia: Diones Camargo
> Daniel Colin e Grupo (Breves Entrevistas com Homens Hediondos)
> Diones Camargo (Hotel Fuck – Num Dia Quente a Maionese pode te Matar) > Patrícia Fagundes e Heinz Limaverde (O Fantástico Circo-teatro de um Homem Só)
> Paulo Balardim (A Tecelã)
> Diones Camargo e Tatiana Vinhais (O Mapa_)


ATRIZ

Melhor Atriz: Larissa Sanguiné
> Claudia Lewis (A Bilha Quebrada)
> Francine Kliemann (O Mapa_)
> Larissa Sanguiné (Hotel Fuck – Num Dia Quente a Maionese Pode te Matar)
> Manoela Wunderlich (O Mapa_)
> Vanessa Garcia (A Mulher Sem Pecado)


ATOR

Melhor Ator: Denis Gosh
> Daniel Colin (Breves Entrevistas com Homens Hediondos) 
> Denis Gosch (Hotel Fuck – Num Dia Quente a Maionese pode te Matar)
> Heinz Limaverde (O Fantástico Circo-teatro de um Homem Só)
> Luis Franke (A Bilha Quebrada)
> Rossendo Rodrigues (Breves Entrevistas com Homens Hediondos)


ATRIZ COADJUVANTE

Melhor Atriz Coadjuvante: Gabriela Greco
> Ariane Guerra (Tartufo)
> Áurea Baptista (Mulheres Pessegueiro)
> Gabriela Greco (Hotel Fuck – Num Dia Quente a Maionese pode te Matar)
> Larissa Tavares (A Bilha Quebrada)
> Vika Schabbach (Ifigênia em Áulis + Agamenon)


ATOR COADJUVANTE

Melhor Ator Coadjuvante: Jeffie Lopes
> Carlos Cunha Filho (Ifigênia em Áulis + Agamenon)
> Jeffie Lopes (Hotel Fuck – Num Dia Quente a Maionese Pode te Matar)
> Marcos Chaves (Tartufo)
> Mauro Soares (Ifigênia em Áulis + Agamenon)
> Pablo Damian (O Mapa_)


PRODUÇÃO

Melhor Produção: Palco Aberto/ De Carli
> Carolina Garcia (A Tecelã)
> Francine Kliemann e Pablo Damian (O Mapa_)
> Palco Aberto Produtora e Jezebel de Carli (Hotel Fuck – Num Dia Quente a Maionese Pode te Matar)
> Luciano Mallmann e Manu Menezes (A Mulher Sem Pecado)
> Rochele Beatriz e Priscilla Colombi (O Fantástico Circo-teatro de um Homem Só)


TRILHA SONORA

> Edu Santos e Edo Portugal (A Mulher Sem Pecado)
> Marcos Chaves (Tartufo)
> Nico Nicolaiewsky (A Tecelã)
> Ricardo Pavão (Descrição de uma Imagem)
> Simone Rasslan (O Fantástico Circo-teatro de um Homem Só)


ILUMINAÇÃO

> Bathista Freire e Daniel Fetter (A Tecelã)
> Bathista Freire (Descrição de uma Imagem)
> Fabrício Simões e Leandro Gass (A Mulher Sem Pecado)
> Lucca Simas e Patrícia Fagundes (O Fantástico Circo-teatro de um Homem Só)
> Teatro Geográfico (O Mapa_)


CENOGRAFIA

Melhor Cenografia: Juliano Rossi
> Vicente Saldanha (A Mulher Sem Pecado)
> Cia. Caixa do Elefante, Alice Ribeiro e Rita Spier (A Tecelã)
> Juliano Rossi (Hotel Fuck – Num Dia Quente a Maionese Pode te Matar)
> Juliano Rossi (O Fantástico Circo-teatro de um Homem Só)
> Teatro Geográfico (O Mapa_)


FIGURINO

Melhor Figurino: Fabrízio Rodrigues
> Daniel Lion (O Fantástico Circo-teatro de um Homem Só)
> Fabrízio Rodrigues (Hotel Fuck – Num Dia Quente a Maionese Pode te Matar)
> Letícia Pinheiro, Isadora Fantin e Greta Assis (O Mapa_)
> Margarida Rache, Rita Spier e grupo (A Tecelã)
> Rô Cortinhas (A Bilha Quebrada)





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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Comentário de Antônio Hohlfeldt no Jornal do Comércio

MAIS UMA VEZ… O PORTO ALEGRE EM CENA
por Antônio Hohlfeldt*

"(...) Da produção local, quero destacar Hotel Fuck - Num dia quente a maionese pode te matar, ambicioso projeto da diretora Jezebel de Carli, a partir do texto de Diones Camargo. Na temporada aqui realizada, havia que se ir três noites sucessivas para se asssistir ao trabalho. Na versão pocket para o festival, o espetáculo teve a duração de quase cinco horas, sucessivas, no Teatro Renascença e no pátio do Centro Municipal de Cultura. Embora muito frio, principalmente para os atores, valeu o sacrifício. Criatividade, exigência técnica e cênica, mescla típica de temas e de perspectivas de abordagens típicas do pós-modernismo, em tudo fica evidente a ambição da diretora portoalegrense em relação ao trabalho, que mescla gêneros e tradições literárias, cinematográficas e teatrais, num resultado que é um verdadeiro transe teatral, graças ao Grupo Santa Estação Cia. de Teatro. Raras vezes, na cidade, se teve um trabalho tão cuidadoso e tão bem acabado. De novo, aqui, produção e elenco se equiparam quanto às responsabilidades, formando todos uma grande equipe, muito bem entrosada, sem o que o espetáculo seria impossível."

*Texto originalmente publicado no Jornal do Comércio, em 23 de Setembro de 2011. Para ler esta notícia na íntegra, na página do jornal, clique aqui.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

HOTEL FUCK reabre suas portas em outras instalações!!!


Depois do sucesso da temporada em maio no estacionamento da Usina do Gasômetro, Hotel Fuck volta com novidades. Nos dias 2, 3 e 4 de setembro abrirá suas portas nas dependências do Teatro Renascença.

sexta Episódio 1: Cavando a Porta do inferno
sábado Episódio 2: Uma temporada no paraíso
domingo Episódio 3: Eles Atiram em Lobos.

Pra quem desejar no dia 11/09 serão gravados os 3 episódios no mesmo dia.
Inciaremos as filmagens a partir das 18h dentro da programação do 18º Poa Em Cena.
Seja nosso Hóspede, você não vai se arrepender!

terça-feira, 31 de maio de 2011

Hotel Fuck - Episódio I por Bruno Barreto, temporada 2011














Impressões digitais de Hotel Fuck, blog de Marcelo Adams e Cia. de Teatro ao Quadrado

http://marceloadams.blogspot.com/2011/05/hotel-fuck-delirio-pulp.html




"Neste fim de semana, consegui me programar para assistir ao novo espetáculo da Santa Estação Cia. de Teatro, Hotel Fuck: Num dia quente a maionese pode te matar. Dividido em três episódios, apresentados em dias subsequentes, o grande (em todos os sentidos) trabalho de encenação da companhia porto-alegrense, comandado por Jezebel de Carli, é de marcar época, dada a virtuosística engrenagem criada e concretizada pelo excelente grupo de atores (Ana Carolina Moreno, Denis Gosch, Jeffie Lopes, Gabriela Grecco, Larissa Sanguiné, Luciana Rossi e Rafael Guerra).
Hotel Fuck é pulp. Tanto no sentido original, ou seja, histórias por vezes de gosto duvidoso, ou envolvendo temáticas pouco realistas, como ficção científica ou "histórias de detetive", quanto nas explícitas homenagens ao cinema de Quentin Tarantino (que homenageou o "gênero" com sua obra-prima Pulp Fiction- Tempo de violência). O amontoado de clichês linguísticos e situacionais foi captado com grande sucesso por Diones Camargo, a quem coube dar forma às histórias que se entrecruzam no cenário de um hotel de baixa categoria. As falas ditas pelas personagens trazem expostas as influências de quem conhece o cinema noir norte-americano e as produções policiais dos anos 1970, especialmente o blaxploitation(filmes de conteúdo violento produzidos nos EUA naquela década, tendo negros como personagens, em produções como Shaft e Foxy Brown). Cabe lembrar que o próprio Tarantino homenageou esse tipo de produção com seu longa Jackie Brown.
Mas as influências do cinema não param por aí. Há desde Sexta-feira 13, o pioneiro dos filmes de serial killers perturbados, até (conforme minha percepção) Dublê de corpo, um clássico oitentista de Brian de Palma, ambientado no meio da indústria do cinema pornô. Pitadas de David Lynch perturbam a cena, e nos lançam enigmáticas ações das personagens. Por falar em De Palma, a figura de Jeffie Lopes, travestido como mulher, me remeteu imediatamente ao psiquiatra assassino de Vestida para matar, um dos meus filmes preferidos, que por sua vez homenageava o cinema de Alfred Hitchcock.
Em suma, quem ama cinema, encontra dezenas de referências deliciosas. Não eruditas, não acadêmicas, mas daquilo que faz o cinema ser o que é: a famosa fábrica de ilusões. E o sensacional em tudo isso é que a Santa Estação faz teatro de primeira qualidade, falando de cinema. Poderia-se ler o espetáculo como uma ode à arte, ao teatro, onde fazemos de conta num momento e, no seguinte, destruimos a ilusão. Mas a peça não se pretende filosófica, mas sim uma saga de divertimento, sangue e teatralidade. Um trabalho memorável, certamente o melhor do grupo a que já assisti, pois é ousado, rigorosamente executado e apaixonadamente defendido. Na apresentação de domingo, a última da temporada, nas cenas finais percebiam-se os olhos marejados dos atores, emocionados e certamente com a sensação de dever cumprido. A emoção deles passou para a plateia, e foi impossível não se comover com a imensa dedicação e amor ao seu trabalho que eles demonstravam.
Muitos parabéns ao grupo, que após graves dificuldades no ano passado, quando tiveram que cancelar a temporada prevista, não se abateram e mantiveram viva a Vontade. Voltam agora, vitoriosos e nos entregando um produto (para usar a linguagem própria ao audiovisual) de alta qualidade."
por Marcelo Adams (Cia de Teatro ao Quadrado)

segunda-feira, 23 de maio de 2011

LIVESTREAM DO HOTEL FUCK!!!

Para assistir o espetáculo ao vivo só precisa clicar no play!

27 de maio, sexta, às 20h: "Cavando a Porta do Inferno" (1º episódio)
28 de maio, sábado, às 20h: "Uma Temporada no Paraíso" (2º episódio)
29 de maio, domingo, às 20h: "Eles Atiram em Lobos" (3º episódio)


Watch live streaming video from casadeteatropoa at livestream.com

sábado, 14 de maio de 2011

Crítica de Rodrigo Monteiro

UMA BOA PIADA BEM CONTADA*

Hotel Fuck – Num dia quente a maionese pode te matar” é o quarto espetáculo da Santa Estação Cia de Teatro, fundada em 2003, dirigida pela diretora, Mestre em Artes Cênicas, Jezebel de Carli. Trata-se de uma única peça dividida em três episódios que não funcionam de forma independente, exigindo que, para a compreensão do todo e para o deleite do público, a assistência destine três noites de sua agenda para fruir a produção. No todo, o espetáculo oferece não só momentos de prazer, como, também, muitos motivos para refletir. Sem dúvida, olhando para o momento em que a peça surge no cenário porto-alegrense, pode-se dizer que ela é o resultado de um processo de amadurecimento do teatro gaúcho no cruzamento com o cinema e a estética pop, urbana e consumista. Diones Camargo, enfim, atinge a maturidade enquanto dramaturgo gaúcho, colocando-se ao lado dos grandes nomes que nossa história já coleciona: Qorpo Santo, Carlos Carvalho, Vera Karam e Ivo Bender.

Hotel Fuck” é uma novela. Tem uma trama principal e algumas paralelas que servem como sustentação. Cada personagem diz respeito a um plot, lidera um núcleo. Gradativamente, as amarravas vão se soltando, os conflitos vão se resolvendo e a trama principal é a última a se resolver. Como em qualquer (boa) telenovela, é nas cenas finais que tudo parece fazer sentido. E a evidenciação dessa tendência é o que garante o fato do amadurecimento de Diones Camargo, que, desde Andy/Edie (Dir. João de Ricardo, Cia. Espaço em Branco, 2006) só oferecia ao público da capital gaúcha textos vinculados ao pós-dramático, esses cheios de imagens, de frases desconexas e de situações limites, sem corpo nem forma.

No primeiro episódio de “Hotel Fuck”, que se chama “Cavando a porta do inferno”, conhecemos os personagens e os conflitos principais. A história de Nick é contada pelo transexual Jesse/Jéssica. Ao ficar órfão, Nick (Denis Gosh) fora adotado pela família de sua mãe. Ainda um garotinho morando com os tios (Larissa Sanguiné e Rafael Guerra) e com as sobrinhas (Ana Carolina Moreno e Gabriela Greco), num dia quente, ele viu seu cachorrinho de estimação ser sacrificado pela tia. Fora de si, e motivado por vários momentos de tortura com os familiares, ele se torna uma assassino, tirando a vida de todos da casa. Os anos passam e vemos o mesmo Nick novamente, já adulto, num quarto do Hotel Fuck. Ele está com sua namorada, a prostituta Linda (Gabriela Greco) e conta a ela que teve uma visão. Ele decide partir para um lugar distante de tudo e de todos, não mais continuando a matar e esquartejar nenhuma mulher, ato esse que, até então, ele vinha praticando impune e com freqüência. Não suportando a ideia de ficar sozinha, Linda resolve se vingar. Embora outros personagens apareçam nesse episódio, ficamos sabendo que Nick e Linda são os protagonistas da peça e o que, em termos dramatúrgicos, nos faz voltar para o segundo episódio é o desejo por saber o que acontecerá com eles.

No segundo episódio, que se chama “Uma temporada no paraíso”, no entanto, novos personagens e novos conflitos aparecem. Loureen (Ana Carolina Moreno) é uma diretora de cinema apaixonada pela atriz principal, Ashley (Larissa Sanguiné), que, por sua vez, é ex-namorada de um outro ator do mesmo filme, Humphrey (Rafael Guerra). Não conformado com o fim do relacionamento, Humphrey quer ter Ashley de volta, mas a atriz não quer nem o ex-namorado, nem Loureen. O público que assiste ao segundo episódio de Hotel Fuck vai para o capítulo final com mais conflitos para resolver.

No terceiro episódio, que se chama “Eles atiram em lobos”, no entanto, há um novo conflito. O transexual Jessé/Jéssica e Audrey, que já tinham aparecido nos episódios anteriores, ganham espaço para finalmente fazer sentido no texto. Foram namorados no passado quando também assaltaram um banco. Jesse, que escrevia roteiros de filmes eróticos, roubara o dinheiro da parceira e contratou Nick para matá-la, impedindo-o de fazê-lo posteriormente. Jesse fugiu com o montante, disposto a emprega-lo inteiro numa cirurgia de troca de sexo. O tempo passa. Audrey não morreu, mas se ligou a Linda numa vingança contra Jesse/Jéssica e contra Nick.

A história se passa no mesmo lugar: o Hotel Fuck. Quando a peça termina, no terceiro dia, os atores da Santa Estação Cia de Teatro se emocionam. Quem assiste, no entanto, fica confuso em pensamentos, tentando unir as peças do quebra-cabeça, ansioso por um tempo para organizar as histórias, lembrar dos detalhes a que assistiu dois dias antes e na noite anterior, entender as cenas que acabou de ver e conferir se as dúvidas que restaram são ou não essenciais. Tudo isso antes de aplaudir ou em meio aos aplausos que, feliz, dá. O texto de Diones Camargo, afinal, oferece cenas muito interessantes, diálogos fortes e potentes. Seus personagens são ricos e a forma como ele estabelece as relações entre as figuras tem diálogo direto com a contemporaneidade, dando à direção muitos bons recursos para a tradução teatral. No entanto, “Hotel Fuck” carece de elementos que confiram maior clareza e ofereçam a segurança, que pode ser desnecessária nos textos pós-dramáticos, esses que dependem do desconforto, mas é essencial para o bom fruir de uma história, sobretudo quando essa se estrutura no gênero novela.

A encenação só tem aspectos positivos. Jezebel de Carli investe fortemente na criação desses múltiplos e paralelos universos, produzindo para tanto cenários, figurinos, trilha sonora, maquiagem e grandes interpretações que tornam teatro o que é a literatura de Camargo. Se há não-entendidos no texto, tudo é coerente e bem colocado na encenação. A Santa Estação Cia de Teatro parte do lixo que é humano, que é cultural e artístico para construir o universo desse Hotel Fuck. Sua manifestação é feita de uma matéria que se encontra no texto de Camargo, mas que também está nas músicas, nas referências estéticas, no lugar onde a encenação acontece (o pátio da Usina do Gasômetro) e na intenção de recuperar o homem por trás do produto.

A história de um psicopata que mata a sua família e esquarteja mulheres é facilmente encontrável em livros de quinta categoria vendidos a moedas nas bancas de revista. Essa mesma fonte produz peças de figurino (sobretudo de lã sintética, perucas de kanekalon, máscaras do Mickey,...), de cenário (geladeira azul, baú de madeira, um ônibus escolar amarelo,...), de maquiagem (olhos de Laranja Mecânica, sombra no olho esquerdo mas não no olho direito, baton rebocado,...) e de trilha sonora (trilha sonora de filmes e músicas bastante conhecidas) que se tornam artigos preciosos nas mãos inteligentes de Carli e de seu grupo. A criação de uma situação de set de filmagem é rica porque está vinculada narrativamente à personagem Loureen, dando significado também à opção da dramaturgia de contar a história de forma tão segmentada (A ordem de gravação das cenas num set de cinema nunca é a narrativa, mas sempre é estabelecida pelas necessidades de produção.). Além disso, a opção pelo contexto “set de filmagem” arregimenta de forma potente a opção estética que inclui cores, formas e texturas vinculadas ao pop. (Pop aqui entendido como estética dos funcionáveis, em que a arte é vista como manifestada naquilo que é prático, usável, presente no dia a dia e não pertencente a museus como um objeto raro.) Nesse mesmo sentido, Carli cria cenas de musical em que os personagens dançam e dublam, errando as coreografias ou as letras e tornando esses erros justamente o lugar por onde sua proposta respira. Em “Hotel Fuck”, quando vemos a contra-regragem preparar as cenas ou dar apoio a elas, quando o ônibus escolar atropela a cancela do gasômetro, quando o isqueiro não funciona, nos sentimos tão dentro da peça como quando tudo funciona sem barreiras.

Apesar do texto ser o elemento mais importante de “Hotel Fuck”, deve-se dizer que aquele que consegue o melhor resultado é, sem dúvida, o cenário e a forma como o grupo conduz as suas trocas. Dentro da proposta estética, magnificamente bem sustentada, os painéis móveis coloridos são movidos a fim de construir salas grandes e pequenas, ruas, corredores, esquinas. As telas são vazadas, o que também motiva o sentido de falta de privacidade, e o fato de não nos interessarmos pelo que está além delas exibe a certeza de que o que acontece na frente é muito mais importante. Quando as telas se abrem e vemos o fundo, a Usina, com gente correndo, peças de figurino no chão, iluminação, tudo parece ser, ainda, o cenário ideal para essa história ser contada. Qualquer que seja a fonte teórica da análise, a conclusão sempre será a mesma: quando podemos dizer que algo é coerente numa narrativa é porque a própria narrativa criou a sua própria linguagem. Esse é o caso e a prova do sucesso de “Hotel Fuck”.

Quanto às interpretações, o elenco consegue, tanto no nível de produção do espetáculo (enquanto artistas, os atores viabilizam a complicada construção da peça, essa envolta numa parafernália perigosa e complicada), como no nível da contagem da história (enquanto artistas cênicos, os atores interpretam personagens), excelentes resultados. Em algum momento, todos os personagens são protagonistas, o que é, imagino, um presente para o ator, porque oferece a ele a oportunidade de mostrar o seu talento e o resultado da sua técnica. No caso de “Hotel Fuck”, é um presente para cidade também, porque o que se vê é uma união de grandes artistas.

Talvez por conta do texto, mais do que da encenação, Nick e Linda, isto é, Denis Gosh e Gabriela Greco, têm a sua disposição melhores recursos narrativos do que seus colegas. No triângulo Humphrey – Ashley – Loureen, temos duas pessoas que amam uma, que, por sua vez, não ama nenhum dos dois, mas ama a si mesma. Na dupla Jesse e Audrey, temos Audrey que ama Jesse ou o dinheiro que ambos conquistaram. Entre Nick e Linda, o sentimento é outro. Nick é um assassino e poderia ter matado Linda como sempre faz, mas não fez. Linda quer ser morta e não entende porque não o foi pelas mãos de Nick. Vida e morte, amor e ódio são amarras que estruturam as falas, os olhares, as intenções desses dois personagens. Nos corpos de Gosh e de Greco, esses significados ganham eficientes significantes e, da mesma forma que não é possível separar um lado de uma moeda do outro, a assistência acredita em cada verdade dessa excelente dupla de atores e aceita o convite que a encenação como um todo faz para ouvirmos essa história que dura três dias.

Existem muitas piadas. Uma delas diz que, "se Lúcifer tivesse que transferir o inferno para uma nova sede, ele certamente escolheria o Hotel Fuck.” A Santa Estação Companhia de Teatro mostra-se como uma boa “contadora de piadas” e seu novo espetáculo uma de suas melhores histórias.

*Crítica publicada originalmente no blog Porto Alegre: crítica teatral. Para acessar a página, clique aqui.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

HOTEL FUCK REABRE AS PORTAS

 Na manhã de 08 de novembro passado o Hotel Fuck foi interditado e todas as reservas foram temporariamente canceladas devido à uma série de incidentes sanguinolentos, incluindo 5 assassinatos e 1 suicídio. O caso é intrigante, uma vez que uma das vítimas teria sido assassinada 2 vezes!

O estabelecimento sempre foi visado pelos investigadores locais, tendo um longo cadastro pela polícia, devido a atividades ilegais dos seus frequentadores assíduos, desde uso e tráfego de drogas à estupros e homicídios. Também está ligado ao desaparecimento de muitas prostitutas e ao aparecimento de partes de corpos de outras tantas. Trataria-se de um serial killer, segundo os investigadores responsáveis pelo caso, mas ainda não há certeza por parte da polícia. Duas suspeitas e uma testemunha foram vistas rondando o local horas antes dos crimes: a testemunha foi vista entrando no hotel com um maço de papéis manchados de sangue. Já as duas suspeitas podem ser reconhecidas uma pela mão postiça que usa, e a outra por ter-se machucado após as lutas violentas travadas dentro dos quartos; esta, aliás, hoje encontra-se mancando e com o cabelos tingido de vermelho sangue.

As informações para a elucidação do caso são desencontradas, os mistérios permanecem sem conclusão. Mas os moradores e frequentadores do hotel exigem reabertura imedita, e as autoridades cederm a pressão e notificaram a reabertura do local. A previsão para a reabertura do Hotel Fuck é para próximo dia 05.

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